Assim
como no futebol, 2014 também fez com que o mercado imobiliário do Nordeste
vivenciasse a necessidade de se reinventar para superar as dificuldades e os
desafios
Por Luciana Silva e Rodrigo Marques Fotos Divulgação
O ano de 2014 foi cercado de expectativas para todos
os brasileiros. Para as quatro capitais do Nordeste que receberam jogos da Copa
do Mundo (Salvador, Fortaleza, Natal e Recife), era o momento ideal para
consolidar todos os investimentos em infraestrutura e fortalecer o mercado imobiliário.
No entanto, o processo eleitoral, determinadas decisões políticas e os efeitos
da macroeconomia tornaram a história diferente. Em Salvador, a insegurança com
o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) e a Lei de Ordenamento do Uso
e da Ocupação do Solo (Louos), que devem ser discutidas com o poder legislativo
em 2015, reduziu a expansão imobiliária. “Vivemos uma experiência diferenciada
por conta desses e outros fatores, como o IPTU, o ITIV e a Outorga Onerosa.
Isso impactou na falta de lançamentos neste ano. Por outro lado, vendeu-se
muito o estoque, fazendo com que o mercado baiano tivesse um equilíbrio
bastante interessante entre as unidades que estão ofertadas e as que estão por
serem construídas”, destacou José Azevedo Filho, diretor de marketing da
Ademi-BA.
Devido a essas questões relacionadas a Salvador, o
mercado baiano passou a se concentrar na Região Metropolitana (Camaçari e Lauro
de Freitas), além de grandes municípios do interior do estado, como Feira de
Santana e Vitória da Conquista. Azevedo
complementa: “Houve um grande impulso com uma nova tipologia de produtos, que
são os loteamentos, criando um importante nicho de atuação para as empresas
baianas nessas cidades. Em 2014,também tivemos um mercado secundário de
terceiros e usados aquecido. Entendo que foi um ano atípico de aprendizado, de
novos mercados e fez com que as empresas fossem obrigadas a inovar”.
Luciano Muricy, presidente da Ademi-BA, também
evidencia a preocupação com o número de lançamentos em 2014. Segundo ele, Salvador
e Região Metropolitana têm potencial para comercializar em torno de 10 mil
unidades por ano. “Estamos enfrentando um ambiente preocupante, que carece de
ajuste da norma para melhorar o ambiente de negócios. É algo que reflete no
quadro de empregos. Salvador perdeu 7.000 postos de trabalho em 2013 e toda
cadeia produtiva da construção civil acaba sendo atingida. Temos algumas
regiões da capital onde parou de haver ofertas, fazendo com que o preço
subisse”, destaca.
Expectativa
baiana
Para José Azevedo Filho, 2015 deve marcar o retorno de
grandes empreendimentos, com a comercialização e o lançamento de 8 mil e 10 mil
unidades, respectivamente. “Com o baixo
estoque que nós temos, finalizando 2014 com algo em torno de 1.500 unidades
prontas, entendo que este ano será equilibrado e próspero para as
incorporadoras e imobiliárias”. Ele acrescenta que os lotes devem se consolidar
como uma tendência no mercado baiano, expandindo para cidades, como:
Alagoinhas, Santo Antônio de Jesus e Simões Filho.
Segundo o diretor de marketing da Ademi-BA, a
sinalização do governo federal para a terceira edição do programa Minha Casa,
Minha Vida também é um fator positivo para 2015. “Há o objetivo claro de
acolher a faixa de renda que não foi ainda devidamente contemplada, R$ 1.800 a
2.500. Precisamos que os agentes financeiros mantenham as suas taxas de juros,
de maneira a favorecer este cenário”, pontua ele.
2014 pelo
Nordeste
Apesar de 2014 ter sido um ano com números não tão
favoráveis, as perspectivas para 2015 continuam positivas. É notável que o
Nordeste possui um grande potencial econômico. Vale lembrar que enquanto o
Brasil caminhava cheio de incertezas, a região vinha crescendo a uma taxa
superior à da economia brasileira, desde 2002. O PIB per capta da região evoluiu
35,43%, enquanto o do Brasil cresceu 26,75%, somente entre 2011 e 2012, por
exemplo. E pode acreditar que as perspectivas de crescimento não param por aí,
principalmente para o setor da Construção Civil. De acordo com o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Nordeste é a segunda região do
país com maior peso na construção nacional, respondendo por 14,2% do valor
total de incorporações, obras e serviços. Sendo assim, as atenções do mercado
têm se voltado para a região.
André Callou, presidente da Ademi-PE, acredita que
Pernambuco refletiu as dificuldades econômicas nacionais, mas se mantém
otimista para 2015. “Temos um mercado imobiliário sólido e importante para a
consolidação da economia nacional e regional, reconhecido por gerar milhares de
empregos e renda. O ano de 2014 está sendo difícil para toda a economia, mas
acreditamos no potencial do setor. Apesar das dificuldades econômicas
nacionais, a expectativa para 2015 é de estabilidade para o segmento, com
acomodação dos preços dos imóveis, considerando-se itens como a reposição dos
aumentos dos custos, tais como mão de obra, entre outros”.
Arnaldo Gaspar Júnior, presidente do Sinduscon de
Natal - RN, evidencia que 2014 foi um ano de muita expectativa por parte dos
empresários. “As vendas não foram tão boas, mas se mantiveram. Natal registrou
uma média de 250 a 300 imóveis vendidos mensalmente. As empresas com atuação
nacional foram agressivas e reduziram preços, o que significou um ótimo momento
para quem desejou comprar”. Segundo ele, o que preocupa para 2015 é uma
possível diminuição nos lançamentos e a volta da confiança por parte dos
empresários na macroeconomia. “Há uma necessidade de um ajuste duro por parte
do governo, com normatizações mais claras. Esse nível baixo de atividade
econômica gera desemprego e repercute negativamente para toda cadeia
produtiva”, explica.
Em Fortaleza-CE, o mercado imobiliário se destacou
como o 4ª maior do país, em 2013. A capital do Ceará teve um crescimento de 43%
em sua receita, atingindo a marca de 3,4 bilhões. Esses dados foram divulgados
pelo anuário do mercado imobiliário Brasileiro, desenvolvido pela equipe de
Inteligência de Mercado da Lopes. O anuário de 2014 será divulgado apenas em
abril.
E por falar em 2014, segundo o especialista em corretagem
de imóveis Paulo Angelim, neste ano o mercado imobiliário em Fortaleza entrou
em ponto de estabilidade com viés de super-oferta, sendo algo que preocupa para
o cenário de 2015. “Será bom de vender,
pois o cliente terá muitas oportunidades de escolha, mas isso implicará uma
retração nos lançamentos. Copa e eleições ajudaram nesta desaceleração, mas não
podemos falar em retração. O ponto mais importante é que bons projetos, boas
construtoras e bons corretores voltaram a fazer a diferença. Em um passado
recente, havia sido nivelado por baixo. Tudo vendia e todos vendiam. Acabou a
farra”, conclui.
Ainda que o
Mercado não esteja na sua melhor fase em Fortaleza, algumas obras de
infraestrutura e desenvolvimento vem contribuindo para o crescimento tímido da
capital. A construção do Shopping Riomar, inaugurado em outubro de 2014, é um
exemplo de que grandes construtoras continuam investindo em projetos bem
sucedidos.
Engana-se quem pensa que o interior está esquecido
pelos grandes empreendedores. Segundo dados publicados pela Ademi-BA, Feira de
Santana e outras cidades do interior representaram quase 50% das unidades
lançadas em 2014 em todo estado. Isso revela o desenvolvimento de outros polos
imobiliários, com empreendimentos de diferentes perfis.
De acordo com a Associação Brasileira de Shopping
Centers (ABRASCE), o setor, que em 2013 representou 19% do varejo nacional e
2,7% do PIB, vem consolidando o processo de interiorização de shoppings, a
exemplo do que acontece em cidades como Petrolina, em Pernambuco, além de
Serrinha, Alagoinhas e Candeias, localizadas na Bahia. A implantação desses
grandes empreendimentos está sendo realizada pela Enashopp, empresa com atuação
abrangente no desenvolvimento imobiliário. “O crescimento econômico do
Nordeste, em especial da Bahia, aliado ao poder de consumo do brasileiro e à
ascensão da classe média vêm estimulando a dinamização da economia e o
crescimento para as cidades do interior. Além disso, a estabilidade econômica
do país frente ao cenário internacional e o crescimento do mercado de varejo
completam a lista de indicativos favoráveis ao investimento”, explica a
diretora da Enashopp, Mirela Gedeon Cubilhas.
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