quarta-feira, 16 de julho de 2014

Estômago reduzido

Cirurgia bariátrica pode ser a solução para pessoas com excesso de peso. Saiba o que os especialistas acham sobre o assunto e veja o que é mito e o que é verdade

Por Luciana Silva



A obesidade é um dos problemas mais importantes que a saúde enfrenta, hoje, no Brasil. Uma pesquisa do Ministério da Saúde, apontou que 51% dos brasileiros acima de 18 anos estão acima do peso. De acordo com o cirurgião e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Dr. Marcos Leão Vilas Boas, a obesidade representa um problema de saúde pública para o mundo inteiro. “Apesar de sermos o país do "fome zero", temos observado um crescimento alarmante da prevalência da obesidade que mata hoje muito mais que a desnutrição”, ressalta.

Dr. Marcos explica que a principal razão pela preocupação é que a obesidade está inteiramente relacionada a doenças como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, e a síndrome metabólica, o que resulta diretamente na frequência dos acidentes cardiovasculares, além de estar relacionada com outros problemas de saúde. “Independente da redução da expectativa e qualidade de vida determinada pelas formas graves da obesidade, a doença implica em maior índice de desemprego, aposentadoria precoce e redução da renda e da produtividade”, diz.

Na guerra contra a obesidade, muitas pessoas optam por fazer a cirurgia bariátrica. Mas será que é o ideal? Na opinião do especialista, o tratamento cirúrgico deve ser utilizado apenas em último caso, nas pessoas que não conseguem obter resultados positivos com tratamentos mais conservadores. “O arsenal terapêutico para o tratamento da obesidade é paupérrimo, com uma taxa de sucesso absolutamente ridícula. Nos pacientes com obesidade mais severa a cirurgia acaba sendo praticamente a única alternativa. Na prática, eu afirmo que pacientes com formas graves de obesidade devem procurar a cirurgia o mais cedo possível para minimizar as consequências e fazer um procedimento com mais tranquilidade”, conclui Dr. Marcos.  

Cirurgias feitas pelo SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS) cobre esse procedimento em alguns hospitais. Mas é preciso pré-requisitos para se fazer a cirurgia bariátrica como por exemplo, ter entre 16 e 65 anos, o IMC (Índice de Massa Corporal) 40 ou acima de 35 com morbidades e não ser usuário de drogas. Dr. Fabrício Messias, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e metabólica, Coordenador do Instituto de Cirurgia Bariatrica e Metabólica e Direitor técnico da ONG Casa do Obeso conta que já realizou mais de 2.000 cirurgias em Itabuna, Salvador, Vitória da Conquista e Petrolina, tanto do setor privado, quanto do SUS. “Somos pioneiros na realização de cirurgia bariátrica por vídeo-laparoscopia no SUS na Bahia. Temos em Itabuna o centro médico Acácio Cardoso. Lá atendemos pacientes de todo pais”.

O presidente da ONG Casa dos Obesos das Cirurgias Bariátricas pelo SUS de Itabuna, Tony de Oliveira, pesava 180 kg, tinha diabetes e pressão alta e foi um dos pacientes do Dr. Fabrício Messias para fazer a cirurgia. Hoje, após cinco anos de operado ele está com 90Kg. “O obeso tem várias dificuldades! A cirurgia é um incentivo, o médico faz a obrigação dele e o paciente tem quer seguir as regras: se alimentar direito, fazer atividade física, tomar a vitamina. Tudo isso me ajudou muito. A parte mais difícil da cirurgia é ter que tomar muitas medicações. Mas, depois da cirurgia passei a ter identidade. Hoje as pessoas me veem diferente. Até profissionalmente passei a ter mais visibilidade”, desabafa.

Segundo informações da SBCBM, o número de cirurgias bariátricas feitas no Brasil aumentou quase 90% nos últimos cinco anos e chegou a 72 mil em 2012. Para Dr. Fabrício, esse número é resultado, principalmente, do aumento de centros de treinamento em cirurgia bariátrica, da liberação pelo SUS e dos bons resultados obtidos.

HISTÓRICO
O primeiro procedimento bariátrico aconteceu em 1954. A cirurgia foi idealizada por kremen e Liner, utilizando o by-pass (desvio) do intestino.  Esse procedimento foi passando ao longo do tempo por evolução até os métodos atuais. No Brasil a cirurgia bariátrica foi se desenvolvendo na década de 80 com a cirurgia de Mason (banda gástrica). Esse método cirúrgico foi bastante utilizado no país, no entanto houve um grande percentual de ganho de peso após o procedimento. Segundo Dr. Fabrício,  na década de 90 a cirurgia de fobi-Capella começou a ser feita pelo Dr. Garrido com grande sucesso. “Hoje ainda é o método mais utilizado , porém com algumas modificações”, conclui.

EVOLUÇÃO DA CIRURGIA BARIÁTRICA
Dr. Marcos relata que o número de pacientes operados, assim como o de cirurgiões que atuam nesse campo vem aumentando consideravemlente a cada ano. “Quando comecei a cirurgia bariátrica há 15 anos, só eu fazia o procedimento, e ninguém nem sabia o que era isso. No meu primeiro ano, entre 1999 e 2000, fiz 33 operações; hoje faço esse número em um mês apenas. Estima-se que no Brasil sejam realizadas mais de 30 mil operações por ano, mas os dados são imprecisos”, finaliza.    

PROCEDIMENTOS

Um cirurgião bariátrico experiente deve dominar várias técnicas para adequar a cada caso, a cada paciente, de acordo a necessidade de cada um. É o que afirma Dr. Marcos, um dos pioneiros da videolaparoscopia (cirurgia minimamente invasiva), na Bahia desde 1991. “Os pacientes diferem em sexo, idade, constituição corporal, tipo de doença associada, hábitos alimentares, etc. Independente do modelo técnico utilizado, as cirurgias podem ser feitas por via aberta, ou por videolaparoscopia que é muito utilizada atualmente porque traz um enorme ganho de segurança, conforto e eficácia”, diz.


 Existe uma infinidade de procedimentos cirúrgicos, cada um com suas vantagens e riscos. Dr. Marcos Leão aponta quais são os tipos: 

Cirurgia de Scopinaro e o Switch Duodenal – É a associação entre “sleeve” e desvio intestinal, o que diminui a absorção dos alimentos e mexe com os hormônios que controlam a fome e a saciedade. 85% do estômago são retirados nessa técnica, mas a anatomia básica do órgão é mantida.
Banda gástrica ajustável ou Cirurgia do Anel - Um anel de silicone inflável é instalado e ajustado ao redor do estômago, apertando o órgão. Isso torna possível um controle no esvaziamento do estômago. Essa técnica é segura e eficaz, representando 5% dos procedimentos realizados no Brasil.
Gastrectomia Verticalou “Sleeve” - Nesse procedimento a maior parte do estômago é retirada, ficando na mesma espessura do intestino, o que contribui para a redução da quantidade de alimento ingerido. O resultado é positivo para o controle da hipertensão, do colesterol e triglicérides.
Bypass Gástrico ou Cirurgia de Fobi-Capella - Essa técnica combina a restrição alimentar com a disabsorção intestinal e é a mais utilizado atualmente. A elasticidade e capacidade são reduzidas porque parte do estomago é grampeada e isolada, criando um reservatório de aproximadamente 50ml.



MITOS E VERDADES 

1. Quem faz a cirurgia bariátrica fica propenso a utilizar bebidas alcoólicas, usar drogas e ter comportamentos compulsivos para comprar.
Mito. Segundo Dr. Fabrício, pesquisas apontam que a maioria desses pacientes já tinham vícios antes e acentuaram após a cirurgia.
2.  Nos primeiros seis meses, o paciente perde mais peso.
Verdade. “O paciente chega a perder entre 20-30% do peso em media, nos primeiros 6 meses”, diz Dr. Fabrício.
3.  Normalmente o paciente engorda em um ano de pós-operatório.
Mito. Dr. Fabrício explica que a perda de peso só estabiliza após 2 anos de cirurgia, então isso não é possível.
4. Após a operação, o paciente precisa fazer exercícios físicos.
Verdade. Praticar exercício físico também faz parte do tratamento da obesidade. Os benefícios são muitos, inclusive para quem se operou:  ganho de massa magra (músculo), diminuição da flacidez, melhora do desempenho cardiorrespiratório e do condicionamento físico, e o fortalecimento dos ossos.
5. Quem faz a cirurgia fica depressivo.
Mito. Dr. Fabrício conta que os pacientes são acompanhados por uma equipe multidisciplinar, dentre eles o psicólogo, que orienta e prepara os mesmos para as mudanças que vão ocorrer.

Revista Cidadelle: http://issuu.com/revistam2/docs/cidadelle03_final_issuu


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