Cirurgia
bariátrica pode ser a solução para pessoas com excesso de peso. Saiba o que os
especialistas acham sobre o assunto e veja o que é mito e o que é verdade
Por Luciana Silva
A obesidade é um dos problemas
mais importantes que a saúde enfrenta, hoje, no Brasil. Uma pesquisa do
Ministério da Saúde, apontou que 51% dos brasileiros acima de 18 anos estão
acima do peso. De acordo com o cirurgião e membro titular da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Dr. Marcos Leão Vilas
Boas, a obesidade representa um problema de saúde pública para o mundo inteiro.
“Apesar de sermos o país
do "fome zero", temos observado um crescimento alarmante da
prevalência da obesidade que mata hoje muito mais que a desnutrição”,
ressalta.
Dr. Marcos explica que a principal
razão pela preocupação é que a obesidade está inteiramente relacionada a
doenças como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, e a síndrome metabólica, o
que resulta diretamente na frequência dos acidentes cardiovasculares, além de
estar relacionada com outros problemas de saúde. “Independente da redução da expectativa
e qualidade de vida determinada pelas formas graves da obesidade, a doença
implica em maior índice de desemprego, aposentadoria precoce e redução da renda
e da produtividade”, diz.
Na guerra contra a obesidade,
muitas pessoas optam por fazer a cirurgia bariátrica. Mas será que é o ideal?
Na opinião do especialista, o tratamento cirúrgico deve ser utilizado apenas em
último caso, nas pessoas que não conseguem obter resultados positivos com
tratamentos mais conservadores. “O arsenal terapêutico para o tratamento da
obesidade é paupérrimo, com uma taxa de sucesso absolutamente ridícula. Nos
pacientes com obesidade mais severa a cirurgia acaba sendo praticamente a única
alternativa. Na prática, eu afirmo que pacientes com formas graves de obesidade
devem procurar a cirurgia o mais cedo possível para minimizar as consequências
e fazer um procedimento com mais tranquilidade”, conclui Dr. Marcos.
Cirurgias feitas pelo SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) cobre
esse procedimento em alguns hospitais. Mas é preciso pré-requisitos para se
fazer a cirurgia bariátrica como por exemplo, ter entre 16 e 65 anos, o IMC (Índice
de Massa Corporal) 40 ou acima de 35 com morbidades e não ser usuário de
drogas. Dr. Fabrício Messias, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Bariátrica e metabólica, Coordenador do Instituto de Cirurgia Bariatrica e Metabólica
e Direitor técnico da ONG Casa do Obeso conta que já realizou mais de 2.000
cirurgias em Itabuna, Salvador, Vitória da Conquista e Petrolina, tanto do
setor privado, quanto do SUS. “Somos pioneiros na realização de cirurgia
bariátrica por vídeo-laparoscopia no SUS na Bahia. Temos em Itabuna o centro
médico Acácio Cardoso. Lá atendemos pacientes de todo pais”.
O presidente da ONG Casa dos
Obesos das Cirurgias Bariátricas pelo SUS de Itabuna, Tony de Oliveira, pesava
180 kg, tinha diabetes e pressão alta e foi um dos pacientes do Dr. Fabrício
Messias para fazer a cirurgia. Hoje, após cinco anos de operado ele está com
90Kg. “O obeso tem várias dificuldades! A cirurgia é um incentivo, o médico faz
a obrigação dele e o paciente tem quer seguir as regras: se alimentar direito,
fazer atividade física, tomar a vitamina. Tudo isso me ajudou muito. A parte
mais difícil da cirurgia é ter que tomar muitas medicações. Mas, depois da
cirurgia passei a ter identidade. Hoje as pessoas me veem diferente. Até
profissionalmente passei a ter mais visibilidade”, desabafa.
Segundo informações da SBCBM, o
número de cirurgias bariátricas feitas no Brasil aumentou quase 90% nos últimos
cinco anos e chegou a 72 mil em 2012. Para Dr. Fabrício, esse número é
resultado, principalmente, do aumento de centros de treinamento em cirurgia
bariátrica, da liberação pelo SUS e dos bons resultados obtidos.
HISTÓRICO
O primeiro procedimento bariátrico aconteceu em 1954.
A cirurgia foi idealizada por kremen e Liner, utilizando o by-pass (desvio) do
intestino. Esse procedimento foi
passando ao longo do tempo por evolução até os métodos atuais. No Brasil a
cirurgia bariátrica foi se desenvolvendo na década de 80 com a cirurgia de
Mason (banda gástrica). Esse método cirúrgico foi bastante utilizado no país,
no entanto houve um grande percentual de ganho de peso após o procedimento.
Segundo Dr. Fabrício, na década de 90 a
cirurgia de fobi-Capella começou a ser feita pelo Dr. Garrido com grande
sucesso. “Hoje ainda é o método mais utilizado , porém com algumas modificações”,
conclui.
EVOLUÇÃO DA
CIRURGIA BARIÁTRICA
Dr. Marcos relata que o número de pacientes operados,
assim como o de cirurgiões que atuam nesse campo vem aumentando consideravemlente
a cada ano. “Quando comecei a cirurgia bariátrica há 15 anos, só eu fazia o
procedimento, e ninguém nem sabia o que era isso. No meu primeiro ano, entre
1999 e 2000, fiz 33 operações; hoje faço esse número em um mês apenas.
Estima-se que no Brasil sejam realizadas mais de 30 mil operações por ano, mas
os dados são imprecisos”, finaliza.
PROCEDIMENTOS
Um cirurgião bariátrico experiente deve dominar várias técnicas para adequar a cada caso, a cada paciente, de acordo a necessidade de cada um. É o que afirma Dr. Marcos, um dos pioneiros da videolaparoscopia (cirurgia minimamente invasiva), na Bahia desde 1991. “Os pacientes diferem em sexo, idade, constituição corporal, tipo de doença associada, hábitos alimentares, etc. Independente do modelo técnico utilizado, as cirurgias podem ser feitas por via aberta, ou por videolaparoscopia que é muito utilizada atualmente porque traz um enorme ganho de segurança, conforto e eficácia”, diz.
Existe uma infinidade de procedimentos cirúrgicos, cada um com suas vantagens e riscos. Dr. Marcos Leão aponta quais são os tipos:
Cirurgia de
Scopinaro e o Switch Duodenal – É a associação entre “sleeve” e desvio
intestinal, o que diminui a absorção dos alimentos e mexe com os hormônios que
controlam a fome e a saciedade. 85% do estômago são retirados nessa técnica, mas
a anatomia básica do órgão é mantida.
Banda gástrica
ajustável ou Cirurgia do Anel - Um anel de silicone inflável é instalado e
ajustado ao redor do estômago, apertando o órgão. Isso torna possível um
controle no esvaziamento do estômago. Essa técnica é segura e eficaz,
representando 5% dos procedimentos realizados no Brasil.
Gastrectomia
Verticalou “Sleeve” - Nesse procedimento a maior parte do estômago é
retirada, ficando na mesma espessura do intestino, o que contribui para a
redução da quantidade de alimento ingerido. O resultado é positivo para o
controle da hipertensão, do colesterol e triglicérides.
Bypass
Gástrico ou Cirurgia de Fobi-Capella - Essa técnica combina a restrição
alimentar com a disabsorção intestinal e é a mais utilizado atualmente. A
elasticidade e capacidade são reduzidas porque parte do estomago é grampeada e
isolada, criando um reservatório de aproximadamente 50ml.
MITOS E
VERDADES
1. Quem faz a
cirurgia bariátrica fica propenso a utilizar bebidas alcoólicas, usar drogas e
ter comportamentos compulsivos para comprar.
Mito. Segundo Dr. Fabrício, pesquisas apontam que a
maioria desses pacientes já tinham vícios antes e acentuaram após a cirurgia.
2. Nos primeiros seis meses, o paciente perde
mais peso.
Verdade. “O paciente chega a perder entre 20-30% do
peso em media, nos primeiros 6 meses”, diz Dr. Fabrício.
3. Normalmente o paciente engorda em um ano de
pós-operatório.
Mito. Dr. Fabrício explica que a perda de peso só
estabiliza após 2 anos de cirurgia, então isso não é possível.
4. Após a
operação, o paciente precisa fazer exercícios físicos.
Verdade. Praticar exercício físico também faz parte
do tratamento da obesidade. Os benefícios são muitos, inclusive para quem se
operou: ganho de massa magra (músculo),
diminuição da flacidez, melhora do desempenho cardiorrespiratório e do
condicionamento físico, e o fortalecimento dos ossos.
5. Quem faz a
cirurgia fica depressivo.
Mito. Dr. Fabrício conta que os pacientes são
acompanhados por uma equipe multidisciplinar, dentre eles o psicólogo, que
orienta e prepara os mesmos para as mudanças que vão ocorrer.
Revista Cidadelle: http://issuu.com/revistam2/docs/cidadelle03_final_issuu
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