segunda-feira, 13 de abril de 2015

Além dos 7x1

Assim como no futebol, 2014 também fez com que o mercado imobiliário do Nordeste vivenciasse a necessidade de se reinventar para superar as dificuldades e os desafios
Por Luciana Silva e Rodrigo Marques    Fotos  Divulgação
 


O ano de 2014 foi cercado de expectativas para todos os brasileiros. Para as quatro capitais do Nordeste que receberam jogos da Copa do Mundo (Salvador, Fortaleza, Natal e Recife), era o momento ideal para consolidar todos os investimentos em infraestrutura e fortalecer o mercado imobiliário. No entanto, o processo eleitoral, determinadas decisões políticas e os efeitos da macroeconomia tornaram a história diferente. Em Salvador, a insegurança com o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) e a Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo (Louos), que devem ser discutidas com o poder legislativo em 2015, reduziu a expansão imobiliária. “Vivemos uma experiência diferenciada por conta desses e outros fatores, como o IPTU, o ITIV e a Outorga Onerosa. Isso impactou na falta de lançamentos neste ano. Por outro lado, vendeu-se muito o estoque, fazendo com que o mercado baiano tivesse um equilíbrio bastante interessante entre as unidades que estão ofertadas e as que estão por serem construídas”, destacou José Azevedo Filho, diretor de marketing da Ademi-BA.

Devido a essas questões relacionadas a Salvador, o mercado baiano passou a se concentrar na Região Metropolitana (Camaçari e Lauro de Freitas), além de grandes municípios do interior do estado, como Feira de Santana e Vitória da Conquista.  Azevedo complementa: “Houve um grande impulso com uma nova tipologia de produtos, que são os loteamentos, criando um importante nicho de atuação para as empresas baianas nessas cidades. Em 2014,também tivemos um mercado secundário de terceiros e usados aquecido. Entendo que foi um ano atípico de aprendizado, de novos mercados e fez com que as empresas fossem obrigadas a inovar”.
Luciano Muricy, presidente da Ademi-BA, também evidencia a preocupação com o número de lançamentos em 2014. Segundo ele, Salvador e Região Metropolitana têm potencial para comercializar em torno de 10 mil unidades por ano. “Estamos enfrentando um ambiente preocupante, que carece de ajuste da norma para melhorar o ambiente de negócios. É algo que reflete no quadro de empregos. Salvador perdeu 7.000 postos de trabalho em 2013 e toda cadeia produtiva da construção civil acaba sendo atingida. Temos algumas regiões da capital onde parou de haver ofertas, fazendo com que o preço subisse”, destaca.


Expectativa baiana

Para José Azevedo Filho, 2015 deve marcar o retorno de grandes empreendimentos, com a comercialização e o lançamento de 8 mil e 10 mil unidades, respectivamente.  “Com o baixo estoque que nós temos, finalizando 2014 com algo em torno de 1.500 unidades prontas, entendo que este ano será equilibrado e próspero para as incorporadoras e imobiliárias”. Ele acrescenta que os lotes devem se consolidar como uma tendência no mercado baiano, expandindo para cidades, como: Alagoinhas, Santo Antônio de Jesus e Simões Filho.

Segundo o diretor de marketing da Ademi-BA, a sinalização do governo federal para a terceira edição do programa Minha Casa, Minha Vida também é um fator positivo para 2015. “Há o objetivo claro de acolher a faixa de renda que não foi ainda devidamente contemplada, R$ 1.800 a 2.500. Precisamos que os agentes financeiros mantenham as suas taxas de juros, de maneira a favorecer este cenário”, pontua ele.

2014 pelo Nordeste
Apesar de 2014 ter sido um ano com números não tão favoráveis, as perspectivas para 2015 continuam positivas. É notável que o Nordeste possui um grande potencial econômico. Vale lembrar que enquanto o Brasil caminhava cheio de incertezas, a região vinha crescendo a uma taxa superior à da economia brasileira, desde 2002. O PIB per capta da região evoluiu 35,43%, enquanto o do Brasil cresceu 26,75%, somente entre 2011 e 2012, por exemplo. E pode acreditar que as perspectivas de crescimento não param por aí, principalmente para o setor da Construção Civil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Nordeste é a segunda região do país com maior peso na construção nacional, respondendo por 14,2% do valor total de incorporações, obras e serviços. Sendo assim, as atenções do mercado têm se voltado para a região.
André Callou, presidente da Ademi-PE, acredita que Pernambuco refletiu as dificuldades econômicas nacionais, mas se mantém otimista para 2015. “Temos um mercado imobiliário sólido e importante para a consolidação da economia nacional e regional, reconhecido por gerar milhares de empregos e renda. O ano de 2014 está sendo difícil para toda a economia, mas acreditamos no potencial do setor. Apesar das dificuldades econômicas nacionais, a expectativa para 2015 é de estabilidade para o segmento, com acomodação dos preços dos imóveis, considerando-se itens como a reposição dos aumentos dos custos, tais como mão de obra, entre outros”.

Arnaldo Gaspar Júnior, presidente do Sinduscon de Natal - RN, evidencia que 2014 foi um ano de muita expectativa por parte dos empresários. “As vendas não foram tão boas, mas se mantiveram. Natal registrou uma média de 250 a 300 imóveis vendidos mensalmente. As empresas com atuação nacional foram agressivas e reduziram preços, o que significou um ótimo momento para quem desejou comprar”. Segundo ele, o que preocupa para 2015 é uma possível diminuição nos lançamentos e a volta da confiança por parte dos empresários na macroeconomia. “Há uma necessidade de um ajuste duro por parte do governo, com normatizações mais claras. Esse nível baixo de atividade econômica gera desemprego e repercute negativamente para toda cadeia produtiva”, explica.
Em Fortaleza-CE, o mercado imobiliário se destacou como o 4ª maior do país, em 2013. A capital do Ceará teve um crescimento de 43% em sua receita, atingindo a marca de 3,4 bilhões. Esses dados foram divulgados pelo anuário do mercado imobiliário Brasileiro, desenvolvido pela equipe de Inteligência de Mercado da Lopes. O anuário de 2014 será divulgado apenas em abril.
E por falar em 2014, segundo o especialista em corretagem de imóveis Paulo Angelim, neste ano o mercado imobiliário em Fortaleza entrou em ponto de estabilidade com viés de super-oferta, sendo algo que preocupa para o cenário de 2015.  “Será bom de vender, pois o cliente terá muitas oportunidades de escolha, mas isso implicará uma retração nos lançamentos. Copa e eleições ajudaram nesta desaceleração, mas não podemos falar em retração. O ponto mais importante é que bons projetos, boas construtoras e bons corretores voltaram a fazer a diferença. Em um passado recente, havia sido nivelado por baixo. Tudo vendia e todos vendiam. Acabou a farra”, conclui.



Ainda que o Mercado não esteja na sua melhor fase em Fortaleza, algumas obras de infraestrutura e desenvolvimento vem contribuindo para o crescimento tímido da capital. A construção do Shopping Riomar, inaugurado em outubro de 2014, é um exemplo de que grandes construtoras continuam investindo em projetos bem sucedidos.



A força do interior




Engana-se quem pensa que o interior está esquecido pelos grandes empreendedores. Segundo dados publicados pela Ademi-BA, Feira de Santana e outras cidades do interior representaram quase 50% das unidades lançadas em 2014 em todo estado. Isso revela o desenvolvimento de outros polos imobiliários, com empreendimentos de diferentes perfis.
De acordo com a Associação Brasileira de Shopping Centers (ABRASCE), o setor, que em 2013 representou 19% do varejo nacional e 2,7% do PIB, vem consolidando o processo de interiorização de shoppings, a exemplo do que acontece em cidades como Petrolina, em Pernambuco, além de Serrinha, Alagoinhas e Candeias, localizadas na Bahia. A implantação desses grandes empreendimentos está sendo realizada pela Enashopp, empresa com atuação abrangente no desenvolvimento imobiliário. “O crescimento econômico do Nordeste, em especial da Bahia, aliado ao poder de consumo do brasileiro e à ascensão da classe média vêm estimulando a dinamização da economia e o crescimento para as cidades do interior. Além disso, a estabilidade econômica do país frente ao cenário internacional e o crescimento do mercado de varejo completam a lista de indicativos favoráveis ao investimento”, explica a diretora da Enashopp, Mirela Gedeon Cubilhas.